CONTRA-SENSO
CONTRA-SENSO
Ainda pulsa o peito,
A alma ainda vibra...
Veloz, ainda corre o sangue.
Ainda estou vivo,
O dia ainda nasce e morre...
Exuberante espetáculo
Que já não me emociona.
Já preciso da máscara
Para me verem sorrir.
A viola ficou triste.
Só aceita tons menores,
Os mais tristes.
Cordas feridas que cantam
Enquanto choram.
Das marcas que deixei
No lombo desta terra
Ainda me orgulho.
Outras maiores, porém,
Trago hoje na alma.
O látego da saudade
Castiga-me inclemente.
Cada lembrança é um golpe,
Cada dia é um flagelo,
Cada noite, uma chaga.
Cantador calado...
Violeiro amuado
Hoje sou o contra-senso:
O corpo ainda vive
Enquanto a alma está morta.