LAR AZUL

É uma nobilíssima noite de verão.

Essa, que vejo descer sobre os pássaros,

sobre a voz rouca dos homens

- de onde soa a ingloriosa medida

das cinzas dos sonhos.

Eu tenho uma aldeia

no centro do coração.

E seus pés de café ainda dançam na minha memória.

Suas noites de lua cheia, de risos coloridos dentro da noite.

Estrelas que regressam nos meus sonhos

- não mais as conto e canto.

É sua agonia que às vezes me acompanha.

A realidade parece uma senda monstruosa

quando despertamos do sonho.

A Ave-Maria em cada entardecer era grandiosa e misteriosa

como uma nuvem sobre a montanha,

meu teto dentro daquele vale onde os anjos

vinham descansar nos fins de tarde.

Eu me apoiava em seus ombros

para tentar descobrir o que tinham escrito

dentro dos meus olhos e que música tinham composto

na palma de minhas mãos.

Quem sabe um dia, sem conhecer nenhuma nota,

mesmo assim, eu a cantaria e eles a ouviriam

aonde estivessem.

Até hoje, tudo isso é célula em mim

este lar azul que deixei perder-se

entre as brumas da noite

em que todas as minhas luzes dormiam.

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