DOMINGO DE CARNAVAL

Todos na rua já soltam a franga. O vizinho convida os que passam, os que param, os que olham para animarem seu bloco - "Cachorras Vadias". Ao som de frevo, homens derramam toda a sensualidade de seus seios de laranja.

Minha mãe corre para ver, comenta, ri, apoia-se no portão. Indiferente a tudo, entro no meu quarto e tento ouvir MPB. Ana Paula, prima que veio passar o carnaval conosco, põe a cabeça na porta e ironiza: _ Ouvindo isso hoje? Não combina.

Limpo meus livros. Sobre a cama tento ler as últimas páginas de "Grande Sertão: Veredas". Impossível. A cada quinze minutos desfila um bloco de sujos diante da minha janela. Não dá mesmo para ler alguma coisa.

Desisto deste isolamento e tento entrar no clima, carnavalesco.

Ligo o rádio na Universitária FM e me deleito ouvindo as doces canções do Bloco da Saudade. Embalado por um frevo na voz de Alceu, afasto o sofá e improviso uns passos. E pulo e suo desengonsado, no meu carnaval tímido e solitário.

Sob o chuveiro, minha cara é de quarta-feira de cinzas.

Ronaldo Fonseca
Enviado por Ronaldo Fonseca em 05/02/2010
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T2071013