Fevereiro
Fevereiro
Já se contam cinco dias, Fevereiro, e já rumorejam.
Sabes o que andam dizendo de ti?
Que antes era braseiro, agora aguaceiro.
Antes era brejeiro, agora arruaceiro.
E sei eu, Fevereiro? Já pensou, se fossemos andar juntos, feito dois ermitões que não se importam, ou feito um casal, desses que já não existem, que ao perceberem que tudo o mais falhou, sabem que tem os braços um do outro?
Rumorejam, Fevereiro, são tantas possibilidades e uma só verdade.
Que as pessoas não te ouçam, pois no meio das brevidades e dos acalantos, repousas na folhinha em local certo, embora dia sim, dia não, descontando os dias dos santos, tu me pregas peças, me faz lembrar janeiro.
Logo mais expiras. Antes me soprava serestas e me tingia o corpo inteiro, agora me molestas com teus tons pouco certeiros.
Vamos adentrando em ti, feito voluntários hesitantes num trem expresso, ora queremos que pare, ora que vá depressa, e no meio da incerteza, Fevereiro, muitos não se conformam e querem cânticos a toda hora. Sabe-se que sobejas, mas não se sabe onde. Sabe-se com certeza que nasces com tinir de criança, que vez ou outra tuas cinzas vão para março, que se despede em prantos.
Pouco se sabe. Até agora são só cinco dias do ritmo de sombrinhas que dançam loucas, de andorinhas que não são poucas, de colírios que são dilúvios e de dilúvios que não são colírios, de memórias doces que se perdem ao largo, até o dia que não queiram mais nada contigo, que esqueçam que és Fevereiro e te transformem num cinzeiro.
Qual, decerto mereces coisa melhor, como o riso dos corações leves e os abraços dos que se amam.
Então, já te desejo o melhor, Fevereiro.
E tomara que não percas o andamento, tomara que tuas lágrimas sequem a tempo, tomara que respiremos tua brisa com a lembrança de que a terra é firme, e que não podemos sucumbir a ela. Pelo menos não antes do tempo.