Final feliz



A quem sonha nada é impossível e esta vida, enfim, se desabrocha a cada instante embalada em sonhos e planos. Sim! Porque o sonho é o final feliz que a gente deseja e os planos são nossa patética tentativa de laçar o destino e conduzi-lo até lá. Porém, os planos sempre cometem o terrível pecado de não serem infalíveis. Caso contrário, não seriam planos; seriam sonhos.

A felicidade, com aquele quê de utopia que lhe confere um charme mítico, a mim sempre escapou, por mais que eu a perseguisse. Os finais, entretanto, sempre me alcançaram e jamais deles escapei, por mais que fugisse. Ambos são trilhas que cruzam o tempo todo meu caminho, mas seus trajetos, paralelos que são, tendem a se encontrar somente num ponto lá no infinito. Essa trigonometria filosófica me divide por zero, vez em quando.

Finais são mortalhas que vestem as tramas que já não têm mais para onde ir. Já a felicidade é um véu que esconde com mistério e encantamento o pudor da realidade, que é dura e fria e que não sabe sorrir.

A despeito disso tudo decretei que em minha vida todos os finais passarão a ser felizes. E tudo que for inevitavelmente ruim será aceito com mansidão para que possa ser esquecido em paz. E tudo que for potencialmente bom será cultivado com entusiasmo, para que possa vibrar ao máximo até que se consume, ou até que se consuma. De ora em diante, todo antes será o fim; todo agora será o início e todo depois será o sonho. É o último plano que me restou, pois só assim serei infinito e poderei acolher, enfim, o final feliz.

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