Enigma das Imagens

Para a Carliana

Descreve o espaço esta imagem sobre a folha – como se irrompesse a narrativa de um autor ausente. Como se fosse iluminar o escuro de um quarto, dizia Ingeborg. Com as pontas dos dedos, acrescentou Ingeborg. Entrava no quarto sem nenhum apontamento, nem a memória era mais que uma sombra. Desenho a possibilidade dessa margem. O eco de uma melodia incólume.

Agora um romance pode começar – entre as áleas do desígnio.

Foi o que escrevi: por dentro da imagem de outra folha.

Lugar entre a penumbra e a iluminação – a lâmpada das palavras.

Marcar com as pontas dos dedos os nomes nas paredes imagináveis. E os nomes deslizando pelos nomes, as paredes sucessivas de uma história longa. Todos os sentidos frente a frente no rumor – instantâneo das emoções. Ao fundo do sentido múltiplo das palavras alinhadas irrompe a narrativa de uma realidade presente. A marginal de onde se vê o mar, a imaginação do mar pela longitude da noite, as luzes adjacentes de outra noite. As palavras quase as aves, quase os lábios, uma película de sílabas inventa a continuidade de um espaço mais longe. O autor se perdeu na descrição sucessiva das últimas imagens.

Pelo enigma das imagens.