Para você entrar...deixei as janelas abertas.
Com a certeza que você viria
Deixei as janelas abertas...
Pela janela você chegou
e foi entrando furioso...
Despertou-me...Eu me levantei...
Nada mais ficou em seu lugar...
Parecia que você me enlaçava...
Convidando-me para dançar...
Eu até tentei te acompanhar
Mas não era um ritmo que me apresentava
Você apenas sussurrava...
Outras vezes apenas assobiava...
Sua presença refrescou o quarto inteiro
Minha camisola, antes molhada e colada ao corpo
Agora seca acompanhava o seu sibilar
dando outras formas a minha sombra,
que com sua dança clareava e escurecia
em lugares diferentes todo o quarto,
Qual um caleidoscópio em preto e branco...
Você ficou assim por um bom tempo...
Furioso, como se urgência tivesse em chegar ou sair...
Assim sem avisar você espaçou o seu furor...
E, também, sua urgência parece que diminuiu...
Nesse hiato o céu clareou e um estrondo eu ouvi...
Você saiu exatamente como entrou...Furioso.
E, ela caiu lindamente...Grossa...Forte...
Levantando o cheiro gostoso de terra molhada...
Fiquei a admirá-la alguns segundos...
Mas o clarão dos trovões me deixava cega...
Fechei a janela, e me deitei...
Abraçada ao meu travesseiro...
Recordava o frescor que você me fez sentir...
Os sussurros e assobios com que você secou meu corpo suado...
E refrescada... Adormeci.
(Maria Emilia Xavier)