MÁSCARAS DA VIDA

Ponho a máscara para não ser

confundida com qualquer lunática

deixo meu ser a esperar por mim

e saio paras as ruas da vida

amargurada, idealista espantada com mundos perfeitos

carregada de sombras mesquinhas

palavras silenciosas

habitante das estrelas

que pula estrela a estrela

a pintora dos amores perfeitos

a montar cometas de utopias...

Fechada a sete chaves a poeta que anda dentro de mim

estremece nos trigais dos sentimentos

e faz versos ao ritmo das moagens dos grãos da vida.

Deixo este meu ser arrumando gavetas,

guardado nos armários, encaixotado na dispensa,

suspenso no cabide de qualquer esqueleto.

Neste abandono, o rosto escondido

que tem de trazer na boca as palavras que o coração

rejeita e nos olhos as luzes artificiais

que a mente não olha pois têm as tremuras

dos brilhos que não iluminam.

Não digam na rua que dentro da minha pele

vai alguém a afrontar

a normalidade do mundo imposto.

Se a tirasse , alguém poderia ferir os olhos

nos reflexos das minhas afrontas,

por se desnudar igual das misérias

que se desprendem dos meus reflexos,

por se ver tão contingente e frágil,

tão pequena e ignorante.

Deixo-a colada no meu rosto .

Já estou cansada de carregá-la

porque me dói a dor de me deixar fechada ,

como se me obrigassem a ser aquilo que não sou.

Como se me obrigassem a ir por onde não quero ir

por não ser o meu caminho.

Recuso-me comprar qualquer outra .

Eu não preciso de máscaras.

Quero é desfazer desta que me impuseram

que me desfigura

com a vergonha de parecer anormal

quando se revela apenas a poeta .

Poeta é aquele que apenas é

aquele não se importa de mostrar o que sente

e ainda é humano...

o poeta não é vitrine cor-de-rosa da felicidade,

mas aquele que anda à procura

espalhando nas letras a magia da poesia

com as cores da harmonia e sontonia!

Como as sombras da noite,

eu não preciso de mais sombras adensadas para revelar

a profundidade da escuridão dos mistérios ensombrados.

O que me dói é esta dor infinita

de não ser capaz de me querer ver livre

e trazer para a rua o que deixei fechado

em casa mergulhado na solidão.

Eu só queria ser livre.

Não quero ser os outros.

Eu só quero ser eu.

Por favor,

ajudem a me libertar

escutem este meu clamor !

01/agosto/2006

Maria Thereza Neves

Maria Thereza Neves
Enviado por Maria Thereza Neves em 01/08/2006
Reeditado em 01/08/2006
Código do texto: T206794