Café adoçado (Viagem rumo à Dinda, continuação)

Dona Maria nos pergunta:

_ Forte ou fraco?

Respondo:

_ O seu café. Como a senhora faz para a senhora? _ E ao mesmo tempo N. diz:

_ Fraco.

O clima daquela casa sem forro. A casa do Caçador de Esmeralda. Chuva copiosa tamborilando nas telhas. Pergunto à dona Maria pelos filhos.

_ Elas moram longe. Só filhas.

_ Em qual cidade?

_ Aqui em Goiás. Mas é longe, vêm pouco.

Dona Maria conta da neta que morreu. Mostra a foto. Dezessete anos. Olhos brilhantes, rosto oval, cabelos escuros e longos, traços da beleza fiorentina.

A chuva não passa, e dona Maria nos chama para assistir TV, no seu quarto. Ficamos as três vendo novela. Sentadas eu e N., num banco de "namorados".

Pregunto:

_ Namoravam dentro ou fora de casa?

_ Não namoravam. Não tinha ninguém pra namorar não.

Numa hora, dona Maria levanta e aumenta o som. Me mexo no meu lugar, e ela me diz:

_ Você está aflita, menina?

Olho para fora a serra, a chuva. A rua de terra, a estrada lá longe. Dona Maria tira as alpargatas, uma de cada vez. E mostra a sola dos pés. Um ponto escuro em cada sola. Mostra os cravos nos seus pés, e conta que os trata com folha de babosa.

Nos despedimos, agardecidas e vamos embora. Ainda chove.

Paramos em uma casa, Ligia Velasques, uma senhora velha e gorda. Andador dentro de casa, ela está na varanda, com uma outra mulher. Nos convida a entrar.

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Contamos que temos um motorista de taxi, N. e eu. Vou até a esquina, retorno com ele. A chuva passa, gostaria de caminhar a pé, mas N. não consegue. Vejo N. sem dar conta de andar, caminhar. Os limites de minhas amigas, em todos os sentidos, são também os meus limites.

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Tomo um banho, deixo N. na pousada, e vou para a Igreja de São Francisco de Paula. Ganho uma carona de Antolinda, a dona da Pousada do Sol, onde estamos.

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