CONFISSÕES NOTURNAS
Ontem, a noite apareceu pra conversar. Estava linda, vestida de luar, com seu mais belo sorriso de estrelas. Serena, entrou pela janela e sentou-se na minha cama. Com voz suave, sussurrou alguns segredos, depois quis saber dos meus. Ela me cochichou aos ouvidos, coisas deliciosas. E meu coração encantado apenas escutou... E quanta coisa linda me contou!
Depois com seus dedos macios de travesseiro ela afagou-me os cabelos e perguntou:
—É verdade que andas sonhando com beijos, sonhando com abraços, sonhando dormindo, sonhando acordada?
Não fosse a penumbra azul que a envolvia, ela teria flagrado meu rosto vermelho pelo susto. Ah, então ela sabia...
— É verdade, respondi. Ando nas nuvens, a sonhar com beijos, a sonhar com abraços...a sonhar dormindo, a sonhar acordada...
A noite passeou seu longo olhar de brilho estelar sobre mim. Franziu levemente o cenho, balançou a cabeça devagarinho.
— Então não sabes que sonhar é perigoso? Depois de luas românticas, o escuro se faz maior. Não tens medo da escuridão?
— Tenho, tenho medo, dona Noite, mas o que vale a vida sem os sonhos?
Ela levou a mão à boca, tentando esconder um risinho maroto. Estava desarmada. Sim, o que vale a vida sem os sonhos, certamente pensava...
— Entendo, disse, por fim. Sempre fui apaixonada pelo sol, ele sempre fugiu de mim, mesmo assim...
— Então sabes do que falo...
A noite fez cara de mistério.
— Sabe o que mais? Não perca seu sono com as tolices desta dama noturna que não tem onde dormir.
Ri baixinho.
— Boa! Noite... Boa noite...
Ela se foi devagarinho na sua carruagem de nuvem. Sonhando, adormeci...