À Morte

Acerte as horas, morte

É teu o implacável marcador de suspiros

Da ponte pênsil à cruz, arrastastes os ponteiros

Da tua inimiga vida, pelo mundo afora.

As horas são mortas, morte

Nem bem despontam e já expiram

Cabem dez colheres de peróxido na vida

Em ti, encerram mais de mil.

Precisa vez do corpo, morte

Nascentes pecados nos diários de alfarrábio

Ditérmanos órgãos findam teu convívio

Entorpecidos com vida, ofegantes lares.

És, sem dúvida, a mortífera espera dos céus

Rumina que não realizas a hora de parar

Procazes ventos excrementícios

Para milhões, és a prostração e o corvo.

Viajes nas asas das focas lenhosas, morte

Não te teme, o forro sem a alta laje

Em casa de gente, adentras pelas valas

Rumores ditam a tua provável independência.

Caias sobre os cinemas e teatros, enlutada farpa

As horas não urgem quando o velho pedala

Versejando medo na tulha da terra volátil

Apossa-se do cetro que espeta a carniça.

Esqueças dos locatários, morte pálida

Viram-te turquesa, os anjos de fronte à capela

Aqueles tais, dos trompetes e clarins

Ogivados e com os olhos no retrato teu.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 31/07/2006
Código do texto: T205977
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