AUSÊNCIA PRESENTE

Ao café, na manhã, o prenúncio:

Gole tíbio, sem um único grão de doçura.

No peito, descompasso; à boca, azedume.

Que intragável é o vácuo de tua companhia!

Dia longo, quando o sol se oculta,

A carência da luz que a tarde prescinde

Turva o céu; há apenas relampejos verpertinos.

E tu, não vens? A certeza, tampouco ...

Já é noite e, confortável e impiedosa,

A tristeza se instala, porquanto não estás.

Sono intranqüilo de sonho perdido.

Num só travesseiro, há vigilia e pesadelo.

Ainda à espera, é quase manhã. Outra vez!

Penitente, não desisto. Mais um café matinal.

Na xícara, a borra revela a sorte.

Olhos orvalhados, recuso interpretar.

Presságio. Finjo-me ingênuo e crédulo espero,

Malgrado o amargo, o sereno e a vigília,

Sorvo ainda um café, noutra manhã. Mas ...

Dia e lua, insensíveis, dirão: "Não voltará".

Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 29/01/2010
Reeditado em 25/05/2018
Código do texto: T2058638
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.