AUSÊNCIA PRESENTE
Ao café, na manhã, o prenúncio:
Gole tíbio, sem um único grão de doçura.
No peito, descompasso; à boca, azedume.
Que intragável é o vácuo de tua companhia!
Dia longo, quando o sol se oculta,
A carência da luz que a tarde prescinde
Turva o céu; há apenas relampejos verpertinos.
E tu, não vens? A certeza, tampouco ...
Já é noite e, confortável e impiedosa,
A tristeza se instala, porquanto não estás.
Sono intranqüilo de sonho perdido.
Num só travesseiro, há vigilia e pesadelo.
Ainda à espera, é quase manhã. Outra vez!
Penitente, não desisto. Mais um café matinal.
Na xícara, a borra revela a sorte.
Olhos orvalhados, recuso interpretar.
Presságio. Finjo-me ingênuo e crédulo espero,
Malgrado o amargo, o sereno e a vigília,
Sorvo ainda um café, noutra manhã. Mas ...
Dia e lua, insensíveis, dirão: "Não voltará".