[Desengano]
Noite avançando...
o corpo bebido, cansado,
o desengano amortecido,
mas um inferno na mente.
A não-partida sim;
mas exatamente
quando partir era tudo,
era fundamental.
O copo e a escrita
ao alcance da mão,
mas falta-me uma arma...
A chuva lenta,
mas o medo de dormir
e ter de acordar.
Agora, o desejo de nada,
e eu queria tanto, tanto...
mas as margens do [meu] rio
são só intangíveis incógnitas;
não têm porto.
Ainda bem que tudo
que eu tenho agora
são apenas esses estudos
de Chopin, estes dedos
a verter palavras a toa,
este copo a dois terços,
e não uma arma carregada!
[Penas do Desterro, a 01h54 de 29 de janeiro de 2010]