SAUDADE DE UM PÁSSARO QUE FUI
Certa vez sonhei que era um pássaro a voar sobre o mar, a pousar numa ilha. Nunca mais vi o pássaro que fui. Nunca mais. Sou a saudade do pássaro que vi num sonho antigo, a voar sobre um mar antigo, a pousar numa ilha antiga. Sou a saudade de um pássaro. Nada senão isso. Nada mais do que isso. As palavras sobreviventes são apenas a ausência que não me consigo mais suprir do pássaro, do mar, da ilha que existiram num sonho antigo, antigo…hoje feito de névoa… de névoa… irremediavelmente. “Para isso fomos feitos…Para chorar e sermos chorados…”, como disse Vinícius. Que, à falta de mar, ainda me existam lágrimas.
Zuleika dos Reis.