Tônus outonal
Estar outono. Janaína sentia-se assim. O céu, de um azul cinzento, lhe suscitava emoções insólitas. Caminhava como quem anda pelas ruas de Paris. Ausência de frio, ar de chuva, temperatura em transição. Ah, que delícia viver!
Janaína entra no único ‘Café’ da cidade. Prazer de espírito e mente, fortalecido ao constatar ser ela a única mulher presente. Sentia como invadindo um território de homens questionáveis com suas idéias emprestadas, os sabichões.
Pediu café puro. Os jornais estavam ocupados por ávidos caçadores de notícias, as novas de sempre. Não importa. Viera numa breve passagem, precisa correr para aula. Supletivo. Já esgotara esta questão rebuscando motivos para o tempo perdido. Devaneara anos a fio. Hoje não lamentaria.
Ganha a rua amando brisa, cor e ar outonal. Sozinha e feliz, sentindo completamente o momento agora, cada momento seguinte, sempre. As dores do mundo e as alegrias da vida. Num brinde ao outono, Janaína canta nas ruas. Pessoas olham essa pessoa destoante. Risadinhas, olhares de censura ou compaixão. Louca não: viva. Mas nem todos acreditam. Alguns fingem não ver para não constrangê-la, os constrangidos. Ou por temer reações psicóticas. Tudo ela captando, pouco absorvendo. Está muito ocupada vivendo mais um dia de outono. E eu, que a tudo assistia, sorria.