Deixo de existir quando não me sinto amada

Deixo de existir quando não me sinto amada e se faz o vazio. O abraço, o beijo, são presenças corporificadas que, se não acontecem, não posso sentir e conseqüentemente não posso existir naquela relação, naquele contexto, naquela etapa da vida. A presença física dá forma ao sentir do outro, mas, no entanto, se houver só presença física sem sentimento, o vazio é o mesmo: o outro me esvazia da ausência de sua presença.

O olhar, a voz, o toque, a presença, dão sentido a mim de um lugar de valor (valoração), pulsação, fluxo das energias. A ausência disso só me permite viver biologicamente, com as funções do sistema automático (do sistema organizador).

Elaborar, dar palavras ao meu sentir e nomear molda o que sinto em sentidos.

As lembranças do meu corpo me revelam o quanto ansiei por ser amada: Um sorriso é a esperança de receber amor; um abraço pode significar “ eu te aceito”, um olhar compreensivo pode significar “ você me vê”.....qual o que! Tudo se esvai.

O que está sobreposto na pele psíquica cria aderência até fundir-se na própria pele e é necessário cirurgia com o bisturi do contato com a verdade corporal e da coragem para extrair a aderência do apego, do medo do castigo, da culpa por não poder ser o que o outro quer de mim como passaporte para receber aprovação e pertencimento. Se eu não fui aprovada pelo outro para ser genuinamente mim mesma, eu substituo a mim mesma pelas aderências que supostamente me autorizavam pertencer e esperançar amor. Essa ilusão alucinatória tem a propriedade de amortecer o impacto da queda no impensável abismo que devem ser as angústias impensáveis de Winnicott.