A Bússola e a Infelicidade

A bússola e a infelicidade

Ao olharmos nossa academia de fora, observamo-la como uma placa de trânsito, que de sua posição longínqua conseguiu transmitir a mensagem para nos guiar ao melhor caminho. A partir desta vista, bela e perfeita, fomos levados a entrar por seus portais vislumbrantes e cear em sua mesa farta com as melhores “comidas” da região. Realmente, o desfrute aconteceu e, maravilhosamente, marcou a nossa chegada.

Com o passar dos dias, percebemos que as placas de trânsito não estariam dentro da academia. Devido ao seu tamanho, causariam transtornos e incômodos a todos nós. A falta de referência nos deixou preocupados... Porém, na mesma hora, conhecemos a bússola, pequenina, simples, fácil de carregar, de conviver..., e, profundamente conhecedora dos rumos que norteariam nossos sonhos, nossas vidas. São bem diferentes das placas, que por sua vez indicar à distância, sem ao menos perceber nossas dúvidas e na proximidade relacional saná-las. E como sentimos saudades daquela bússola de fala mansa, de atitudes elegantes, inspiradora, que entoava palavras como: “Epistemologia, Empirismo, Escolástica...”!

Bom. Lembro-me da infelicidade que nos adveio, forçando-nos a uma fuga repentina, e que, contrariando nossos sonhos, dizia: - Fujam! O barco vai afundar! É perda de tempo continuar nesta trilha, ela não vai nos levar ao destino prometido! Bem..., de fato, alguns deram confiança às palavras da senhora infelicidade, trazidas pela tenebrosa greve. E que greve! Contudo, ficamos e semeamos com lágrimas, muitas lágrimas... O mais impressionante é que resistimos através dos aconselhamentos da bússola: - O norte é para lá, logo ali...

Outra vez, a senhora infelicidade nos lembra do tempo que aproveitaríamos fora da academia e nos convida a sair para recuperar esse tempo aparentemente perdido, pois ainda havia condições para recupera-lo. Quem disse que a bússola estava dormindo! Interveio em nosso favor e grita muito alto: - Não vão! O norte é logo ali. Retira-nos das grades do portão de saída em direção ao recanto do conhecimento. Ufa! Esta foi por pouco! Dizemos.

Sem se cansar, a senhora infidelidade adverte a todos, através de suas palavras, que nossos familiares precisam de nós, que reclamam dos poucos momentos juntos e que, permanecer na academia acarretaria em ficar longe demais deles. Demonstrando, também, muita vivacidade, a bússola nos ajuda a sair de mais uma emboscada, e diz: - aqui dentro todos somos parte de uma grande família, por isso, se um precisar temos o outro para emprestar o ombro de um amigo mais chegado que um irmão! E, antes de sair de nossa presença, vira e lembras-nos: - O norte é logo ali!

Parecendo invencível, indestrutível e incansável, a senhora infelicidade tenta nos desestimular mais uma vez dizendo: - olha as dívidas, vocês estão devendo a academia, as passagens dos transportes sofrerão reajuste no próximo mês... Vão continuar? Saiam logo, e amenizem o sofrimento interrompendo esta caminhada, que só traz desgastes. Mas, a nossa referência primaz estava sempre presente e nos alerta a “assistirmos o filme todo”, pois a cena final estava próxima, dizendo: - O norte é logo ali!

Cansados de tantos embates e confusões, chegamos ao último estágio de etapa: a monografia! Ah! E a senhora infelicidade não perdeu tempo: - Desistam, vocês não conseguirão acabar em tempo, e se conseguirem, serão envergonhados pelo baixo nível intelectual deste trabalho. Vão ser envergonhados, saiam... eis que vem chegando a levantadora de ânimo, a bússola. Sem falar absolutamente nada, aponto o dedo para frente e nos trás à memória:- O norte é logo ali!

Então, chegou o dia esperado: Encontrar o norte. Estamos aqui, depois de uma viagem muito cansativa, felizes. Numa festa só para “teimosos, considerados vencedores. Nesta festa, o prometido era entramos na cidade chamada Norte e recebermos as chaves para as suas portas. Ao recebermos as chaves um filme é apresentado em nossas mentes: lembranças de uma viagem em que suportamos todo sofrimento! Que felicidade. Felicidade! - Cadê a senhora infelicidade? - Já se foi. Respondemos em alta voz... Porém, sem nos desanimar a amiga bússola nos mostra algo pela janela: Era a senhora infelicidade querendo entrar na festa... não demos audiência e continuamos com a festa. De repente, a cerimonialista nos convida a receber as tão esperadas chaves. Recebemos! E logo fomos em direção a porta indicada pela bússola. Ao abrirmos ... nos deparamos com a seguinte frase na parede: Parabéns! Mas o norte é logo ali...

Por Flávio Feijole Corrêa - 17.09.2009 as 01:51 manhã

FEIJOLE
Enviado por FEIJOLE em 22/01/2010
Reeditado em 02/02/2010
Código do texto: T2043968
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.