Nota

A maioria dos meus textos está na categoria "prosa poética". Eu não sei o que eles são, entretanto. Então escolho o que me parece mais desconhecido e de contornos imprecisos.

Porque seria melhor prescindir de classificações e não tenho a pretensão de corresponder ao que se espera de um conto, de um poema, de qualquer coisa. Apenas escrever, do modo mais circunstancialmente honesto, como quem expressa uma necessidade, sem haver que enquadrar prévia ou posteriormente a organização das palavras que se podem atropelar quase independentes, como se tivessem vida própria, como se fossem a coisa em si e não o instrumento e então eu é que me desfaço para lhes dar passagem, reverente à sua existência que vai além de mim e é preciso coragem de entrega ao que não se compreende e não se sabe se irá a lugar algum, e não se precisa.

As palavras vibram de um modo imponente de maneira que me torno quase mera observadora que as contempla delinear qualquer coisa, não importa, o vazio, o vasto, os contornos suaves de um universo inexistente ou o arrebatamento das sensações indescritíveis. Torna-se então pleno o ato e, transfigurada, abro meus braços deixando que se esvaiam e me comove essa desmaterialização irracional quase imperceptível.

Com a inconsciência satisfeita de uma ébria cujo corpo pulsa livremente e fascina-se de um brilho que vai crescendo e espalhando-se sobre um chão áspero acinzentado, sigo embevecida do prazer sublime que permite a completa doação de si.

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 21/01/2010
Reeditado em 21/01/2010
Código do texto: T2042957
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