Sem Palavras
Parada há muito, sem caminho nem destino. Sem palavras. Medo do fundo. O receio de perder tudo. No nada que me consumia, estava assim a minha vida. Perdida como a semente que um dia joguei no gramado aqui de casa.
Observo na janela algumas flores, pitangas vermelhinhas a saborear.
São vários os colegas, declarações de algum afeto. Mas nenhuma delas concreta e que as possa guardar.
São vocábulos ditos, repetidos, sem função... nem sei.
O que sei é que estagnei como as pedras do meu jardim. Essas que contornam minha casa e me sufocam a esta reflexão.
As palavras são perigosas, são gaiolas que te aprisionam se não medidas.
Estava solta, despreocupada. Era uma louca liberta em meio às reticências e parênteses abertos.
A grama alta alcançando a janela é sinal do desvelo e das festas não perdidas.
A felicidade alcançou a mim e a calçada! Deu - me anos de vida a mais pra escrever as palavras certas ... aquelas mais próximas da mente insana que vinha me perseguindo.
Agora corro como uma louca, desvairada com as palavras.
Passei um tempo inerte, mas agora percebo coisas antes irrelevantes...
Não encontro-as, corretamente. Busco-as, incessantemente, como se estivesse as capturando.
É uma nova etapa de minha vida. Estou sem palavras, presa a elas como os galhos da pitangueira.
O gramado está alto, não vejo o portão. Não me importo. Conjugo bem o verbo voar a tal maneira que transgrido tudo o que não é espiritual.
Meu cachorro sumiu, talvez porque não me lembrasse de alimentá-lo.
Mas a semente vingou. As pitangas estão florindo o meu quintal e me saciam das privações antigas.
Escrevo por necessidade. Revivi nesse dia as pitangas sempre docinhas do meu jardim. Do mesmo sabor que as palavras libertas afora.
15/02/2006