PÓ DO TEMPO
Da janela coberta pelo pó do Tempo, vislumbro o mato seco sufocando sementes do que um dia foi jardim. Estéreis árvores, mas ainda com a imponência da juventude, abrigam pequenos pássaros na quietude de uma tarde resgatada nos porões da infância. Visível é a saudade, diante da velha porta que convida ao pulo sobre os buracos do assoalho - feridas vivas que corroem a casa em ruínas - e as lembranças fazem-se bem-vindas. O vento acaricia o rosto e o corpo se deixa flutuar num balanço que ganha o céu. Sob sons distantes e silvo de cigarras, desfilam dias de alegria e inocência. Que bom fosse assim a vida, balanço que vai e volta, depois de angariar braçadas de sonhos. Porém, voa o Tempo e os dias vêm dizer da luta do viver, mas também nos dizem do aceno dos amigos de jornada, que mantém vicejante a flor da Amizade e por isso já vale à pena seguir. Mais um olhar e avisto frestas enormes na janela - o sol irradia Esperança, essa passageira oculta na jornada da vida.
Helena da Rosa
13.11.2011