Julia

Nas entranhas da minha memória gustativa está cravado o teu gosto, a tua saliva. O teu suor entrou pelos meus poros e o teu gemido apagou meus pudores, libertou as minhas dores e fez brotar nos lábios aquele sorriso safado meio escondido no rosto molhado, mergulhado em teu peito, entre teus peitos. Já te sinto dentro a tanto tempo que não precisa mais pedir pra entrar. Já te vi saindo tantas vezes que nem precisa mais se explicar. Você bagunça tudo e eu juro que não há nada que eu odeie mais do que a organização. Não te acho perfeita, só sinto que me encaixo de um jeito gostoso nesses teus erros. A minha coluna arde nesse anseio de dizer tudo que não pode ser dito, nessa vontade de morder tudo que é maciço, de sugar tudo que é liquido e de amar tudo que não existe, porque você não existe, você é luz. Você é faca afiada, é língua molhada, é abraço quentinho, é mão gelada. É tudo que não me faz falta, mas me faz feliz.

É aquela fogueira queimando no fim da noite, é a brasa ainda quente olhando o sol nascente. É não esperar nada além do que se tem, mas ficar afobada imaginando o que se poderia ter. É não se decepcionar, mas também nunca se contentar.

É não se importar com os fins.