PESCADORES DE MOMENTOS
É chegada a hora: junto as palavras, penso em limites, delimito meus próprios limites e vou, vou ainda sob a mesma chuva, sob o mesmo céu. Tenho um companheiro, que me usa, que é bastante usado, que me aquece, que vulgarmente se chama cigarro. Eu e meu cigarro, sós, à noite, alta noite, nas ruas, vagando, pescando momentos, rompendo relações pra lá de extras. É chegada a hora. Me sinto aborrecido com as guerras que me são apresentadas, guerras tolas, sem guerreiros, sem nada. E a chuva permanece, e os espíritos permanecem, e a rua erma permanece a se mostrar, a desvendar alguns mistérios que eu suponho errôneamente. Prudentes... Dois seres, retrovirais, eu e o meu cigarro, na boca da noite, cuspindo, caçoando, relatando o que ocorre cá entre nós. É chegada a hora: vai-se a fumaça, vai-se o momento, morre o meu companheiro... Mas a dinastia dos cigarretes é mantida por mim; substituo-os a cada ciclo, mantenho uma seleção nada natural, e todos são sobreviventes, e o meu pulmão é hospedeiro, e a hora chegou: ¨MOÇO, UM MAÇO DE CIGARRO, POR FAVOR¨.
E pescamos momentos todas as noites, assim.