O NOME AZUL QUE FOI MEU

Eu, eternamente na concha deste apartamento, com o silêncio dela no próprio quarto e o meu silêncio diante do espelho em que recuso olhar-me. Em mim, a sensação da inexistência do mundo exterior e de mim no tal chamado mundo exterior - ah, como gostaria que este escrito fosse metáfora e não o registro pleno da minha condição! Pudera andar a esmo, andar, andar, andar, andar, até esquecer o nome das minhas pernas…o nome do azul que tive no meu nome, o nome do azul que, por um átimo, foi meu. Jamais rainha de mim mesma, jamais rainha de nada, abdicada à força de cada um dos reinos que não me couberam, nos quais eu jamais coube. Abdicada. O oceano ruge sob o navio em que não viajo, em que jamais viajarei…eu, aqui, imóvel como uma árvore inútil, pássaro só tronco, sem canto, sem asas.

Zuleika dos Reis, em algum dia de 2008.