Ex-Poeta
Acho que a inspiração não me pertence mais. As linhas e seus pontos me parecem desconhecidos, as rimas não são mais perfeitas. Minha imaginação anda assim, como quem não quer nada, ou não sabe de nada. Ou eu perdi o jeito, ou fiquei crítico demais, para as minhas tão despretenciosas tentativas de narrar o mundo, sob forma de poesias.
O tempo passa, o relógio não fica parado, minhas idéias mudam constantemente, meus ideais mudam a cada instante. O céu estrelado brilha cada vez menos, e os coraçãoes apaixonados não me apetecem como antes. As pessoas são apenas pessoas, não criaturas sonhadoras; autores romancistas nunca mais, nada contra,só acho que é muito sofrimento, são muitas lutas contra todos e contra eles mesmos. Desculpe os remanecenstes do realismo, mas para verdades abro o Jornal. E o que dizer do realismo fantástico? -Não acredito em contos de fadas. Aliás não creio em mais nada, não posso mudar o mundo com minhas letras pálidas em linhas tortas. Cansei de mentir falsas promessas, e de pensar em protestos ou desabafos, que nada importam á quem deviam importar.
Mudei de tática, estou na lei do silêncio, e do mínimo esforço. Canso apenas de pensar, que tenho que pensar em algo, para outras pessoas pensarem também.
Perdôe-me, mas estou assim. Buscando respostas, mais prático, menos àgua com açúcar. Não quero dizer com isso,que bani de vez a poesia e sua beleza, apenas as vejo em outro lugar. Um lago com suas sucessivas ondas circulares, as borboletas em suas rápidas passagens, nos gatos e seus mistérios, nas crianças e na sua inocência e nos mais experientes e suas lições. Como disse,mudei.
Tento me encontrar, nestes desvios da vida. E quando me achar contarei para vocês.