A BUSCA DA FELICIDADE
Fui em busca da felicidade. Saí cedinho, pois não tinha o endereço e teria que espiar por todos os caminhos. Eu já havia esperado por ela, mas ela demorava a chegar. E eu, na minha impaciência, resolvi ir atrás dela.
Na adolescência, pela estrada do romance me aventurei. Tinha certeza que ela estava no olhar verde que me fitou e me encantou na primeira curva. Pura ilusão que, como toda a ilusão, se desfez com a chuva. De nada adiantaram as lágrimas que verti. A felicidade não estava ali.
Enveredei pelo caminho da esperança e ela me conduziu a um porto que prometia ser seguro. Foi um amor imenso, que floresceu num verão iluminado pela juventude. Ali estava o porto que sonhei e nele depositei toda a pureza que eu tinha na bagagem. Durou um tempo, mas não resistiu ao inverno. A tempestade destruiu as estruturas de um amor que parecia uma fortaleza, mas que não se manteve ao primeiro abalo.
Desisti de sonhar. Deixei de acreditar no amor. Concluí que a felicidade não depende desses fatores. Foi uma época de desesperança e dor que mudou o rumo da minha estrada. Enveredei, então, por estradas tortuosas, ferindo o coração com os espinhos e os pés com as pedras do caminho. Desisti, momentaneamente, da felicidade. Minha busca foi envolvida pelas trevas que antevia ao meu redor. Faltava luminosidade para ver os corpos em que eu esbarrava e que me jogavam, cada dia mais, para fora do caminho. Minha estrada ficou mais longa, porque os desvios frequentes me transformavam num joguete. E, a cada desvio, eu tinha que buscar a trilha certa, outra vez.
Nada é eterno, a não ser a alma. E foi com ela que voltei a procurar a felicidade. Iluminei o meu espírito no aprendizado diário e na soma das pequenas coisas que antes eu não percebia. Eu viajei buscando algo imenso, pensando ser ali a casa da felicidade, mas não. A felicidade abrangente, que toma conta, como um conto de fadas, de todos os aspectos do meu viver, não existe. Descobri que tinha pequenos rasgos de alegria e que deveria viver um de cada vez. Aproveitando, sem ansiedades, o momento bom que a vida me presenteava. Juntei meus cacos, curei as feridas e me iluminei.
Não tenho a fórmula da felicidade e nem sei se ela existe neste plano. Eu não a vivo em plenitude. Tenho dias de chuva tormentosa, de ventos furiosos. Mas meu barco, hoje, está bem aparelhado. À prova de tormentas e furacões. Finalmente estou tranquila. Sei que não sou feliz completamente, mas tento passar as tempestades protegida pela esperança e pela fé. Concluí que a vida tem momentos destoantes, mas se a alma tem luz suficiente, ela ilumina meu andar e espalha luz ao meu redor. E que, doando luz, recebo mais luz. É a troca de energias entre os seres, que fortalece o espírito. Se todos mantiverem sua lâmpada acesa, a escuridão do mundo se dissipará. Minha alma ainda sofre, as vezes, mas já consigo combater a melancolia e dar valor às pequenas alegrias que, somadas, tornarão a vida mais feliz.
Esse é o nosso destino. Esse é o caminho. A felicidade por si só não existe, porque não se encontra em coisas ou pessoas. A felicidade é um estado de espírito.