Indícios de Solidão...
Indícios de Solidão...
Caixas, potes, vidros. Separar solidão por solidão.
Recentes para um lado, antigas para outro, reincidentes na gaveta mais antiga.
Cada dia no seu canto, cada período no seu vago,
Cada hora separada conforme a dor.
Silêncios: interiores numa gaveta, exteriores noutra.
Selecionar: motivos aparentes dos não aparentes.
Cada ferida com sua razão. Cada agrura com seu motivo.
Dividir: Fracionar, isolando cada coleção de tristeza.
Ensacar por cores: o cinza do triste, o opaco da agonia,
Separar o turvo da ausência do gris da saudade.
Ah, a saudade, coleção que carece cada dia de mais espaço, cresce assustadoramente...
Para não se perder: Separar as dores das cores, as dores por cores.
Arranjar tudo cuidadosamente dentro do inexistir.
Aquietar: Acomodar nacos de sentimentos, agasalhar pedaços de ilusões,
Frações restadas num canto qualquer da velha memória.
Tirar o pó, alimentar com tênues fios de esperanças cada vazio fecundo.
Aprisionar: Render fagulhas de alegrias em cofres blindados de expectativas.
Viver no sótão entre avolumados guardados do tempo.
Viver meio ao que resta de si.
Embrulhar sorrisos para entrega em ínfimas porções.
Lacrar com sal, marca registrada em tantos cantos. Esquinas.
Oco acalentar. Ocultar-se da própria existência.
Preencher lacunas para entender-se aqui.
Saber-se esmiuçando o viver.
Compreender o que resta latente.
Viver...