Todos os Dias são Pobres

Ó dia, pobre dia

Que lhe olvidam os ventos

Que lhe atrapalham as nuvens

O sino dobra em teu crepúsculo

A flauta reina em tua irmã.

Ó dia, pobre dia

Sabe nada da noite

Fofocas tuas ressoam, pescadas

Onde pariu o colibri, na relva

Onde renasce a doura Vênus, na selva.

Ó dia, pobre dia

Tenor dos rascunhos e dos cantos

Parceiro do lume, velado levedo

Trazes do samba, o enredo

Fundes na taça o azedo, o teu medo.

Ó dia, pobre dia

Contigo aprendo ofícios, meus galos

Tu cantaste a chuva rara a cair, nua e muda

Para o enlevo em colchete, teu flerte

Donde morre o alumiado sol.

Ó dia, pobre dia

Das ecdises e ventanias, és o agrião

Amargos colostros, tramóias acetinadas

De onde urram os limões, nos descalços pés do verão

De onde fingem os teclados, na sísmica proa galhada.

Ó dia, pobre dia

Vens à noite, deitar o pranto

Por céus senhores, divã do universo

Beba das horas, o poente

Onde dorme o astro, o sono latente.

Ó dia, pobre dia

Mantenhas em firmes palmas, o candeeiro

O qual firma e chamusca, insípido

Perceba a quede névoa em teu pára-brisa

É o peru de véspera da tua partida.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 26/07/2006
Reeditado em 26/07/2006
Código do texto: T202442
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