Todos os Dias são Pobres
Ó dia, pobre dia
Que lhe olvidam os ventos
Que lhe atrapalham as nuvens
O sino dobra em teu crepúsculo
A flauta reina em tua irmã.
Ó dia, pobre dia
Sabe nada da noite
Fofocas tuas ressoam, pescadas
Onde pariu o colibri, na relva
Onde renasce a doura Vênus, na selva.
Ó dia, pobre dia
Tenor dos rascunhos e dos cantos
Parceiro do lume, velado levedo
Trazes do samba, o enredo
Fundes na taça o azedo, o teu medo.
Ó dia, pobre dia
Contigo aprendo ofícios, meus galos
Tu cantaste a chuva rara a cair, nua e muda
Para o enlevo em colchete, teu flerte
Donde morre o alumiado sol.
Ó dia, pobre dia
Das ecdises e ventanias, és o agrião
Amargos colostros, tramóias acetinadas
De onde urram os limões, nos descalços pés do verão
De onde fingem os teclados, na sísmica proa galhada.
Ó dia, pobre dia
Vens à noite, deitar o pranto
Por céus senhores, divã do universo
Beba das horas, o poente
Onde dorme o astro, o sono latente.
Ó dia, pobre dia
Mantenhas em firmes palmas, o candeeiro
O qual firma e chamusca, insípido
Perceba a quede névoa em teu pára-brisa
É o peru de véspera da tua partida.