[Às Portas de Mim]

["Oh, metade de mim..."]

O clac azeitado da fechadura

deixava lá fora a noite,

os estranhos, os perigos.

Por uma fresta no alto da porta

o dia estava indo embora...

Hoje sei bem que um tranco só

e a velha porta de duas folhas

cederia escancarando as nossas vidas.

Mas quem daria esse tranco,

quem forçaria as portas de guarda

de um santuário de pobre?

Em contraponto, eu pergunto:

se hoje eu estou encerrado

na construção que me sepulta,

quem forçaria as portas

que dão para este calabouço,

quem bateria às portas minhas?

[Ninguém sabe quanto vale, logo,

ninguém paga o preço real de ninguém,

e se mais clareza me for demandada,

direi que clareza maior não pode haver

que mirar as áscuas na água do fundo

de um poço quando sol está a pino;

assim, quem se arriscaria a olhar

para o fundo escuro do poço de mim?

Cada sonho, é um sonho e pertence

ao particular instante que o engendrou]

[Penas do Desterro, 08 de janeiro de 2010]

[Excerto do meu Caderno 4]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 09/01/2010
Reeditado em 18/10/2011
Código do texto: T2019376
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