A dor também é minha...
Águida Hettwer
Redesenhando as margens de outro ângulo, pudera desarmar as palafitas a beira da estrada, reconstruindo sonhos pueris, de uma infância alegre e feliz. Sem barrigas roncando de fome, dormindo ao som dos estopins de tiros aos céus. Os fogos fossem de artifícios e não de fuzis.
Ah! Se o choro melodioso que desce do morro, fossem cessadas, por alaridos de orações, mãos unidas por uma causa justa. O medo que assola tantas famílias, no frio da indiferença. Onde o povo tem perdido a crença, o sono e a esperança. O riso se refugiou nos livros do passado, não há nenhum recado, deixado escrito ou assinado.
Tanta injustiça à beira da cobiça. Transpassa a lâmina afiada pelas costas. Há um grito de revolta! Uma dor que não cessa, no âmago da realidade. Trapo encardido serve de abrigo, pão adormecido mata o gemido da fome. Há esperança no final do túnel?- Alento nos braços da mãe que clama.
O filho pede trocados na esquina. A filha se perde nas ruelas e becos da vida. E o pai? –Em algum boteco, enchendo os canecos, triste sina. Ah! A dor também é minha...
Realidade nua na vida breve que se insinua.
07.01.2010