Ai, Poeta!

A jantar denunciantes verbetes da alma,

És o verbo na forma líquida de poetizar

Tuas liras declinam benditas fanfarras

Declamam na mente, o pôr-do-sol mascavo

Num interlúdio;

Fere com migalhas achacadas

As mais rubras cores a tripudiar de ti.

Tu és o catre vão na escuridão, o delírio

Onde deita e espicha o sacro corpo

Maleável, estrebuchado

Coaxando os miados do arco-íris invertido

Tu és miséria, pranto e alarido

A foice cortando o salame mocho

O antídoto às queimaduras do ácido noturno

Tu és a voz, a bengala e o cetro a acariciar, a mendigar.

Aplausos para ti, poeta!

Que voa neste esquife mudo do tempo

Embrenha-se no lastro do dia salino, a focinhar

E varres tuas malditas calçadas de vidros;

Aparte para atirar, os paralelepípedos que de ti usurpam

Não são fidalgos, são lencinhos de cicuta a arrancar-lhe o nariz;

Suas frutas, namorastes

Teus caroços, infindáveis moços de saca-rolha nos bolsos

Vertigens.

Ai, poeta!

Pra ti, publico a centésima poesia

Duma vasta jarda percorrida, na medida;

Se tu sangras, a luz se acende

Se matas, é desvio inconsciente, dormente

Mas, para ti, poeta do amanhã

Enovele tua lã no afã utópico da vida

Revele outrossim, a lata de tinta aos espectros do lume

Ressequidos estarão os peixes no vazio das cisternas;

Pelas infinitas melodias da cenozóica corte,

Crave tua pata alienígena no lóbulo frontal da hipocrisia

E da demagogia;

Ah, abomináveis!

Sorva a essência com peripécias talhadas no áureo pulmão do mundo;

Verta leite pelas veias prófugas

E desmaie nas tortuosas linhas da inspiração.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 25/07/2006
Reeditado em 13/03/2008
Código do texto: T201691
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