Nos Quintais da Mente

Risca no céu a centelha da ira

Como ondas a tombar barcos de pesca

O oceano a invadir casas de gelo;

Sinto, intensa, a fúria apocalíptica

Meus sentidos devolvem-me ao chão

Sem pisoteio, com grãos de cevada em pousio

Podendo germinar num estrondo convulsivo;

Delego à mente, peças e poderes divinos

Aventa a corja a introspecção prostrada

Um desnível, quase nada;

Meus assombros vêm calados, modestos

Faca cega a mastigar a carne rebocada;

Infâmia.

São esfinges circunspetas, minhas foices d’alma

(a crendice cacareja na tela a óleo e a sandice troveja

os mais banidos zunidos);

Merecemos tudo o que nos ocorre;

Se não somos linces, também cerejas não as somos

(devoramos frutos mais cítricos, com sabores invisíveis... E adoramos!);

E com isso, bocejamos;

Somos ácaros moles, juncados de acnes a umedecer

A amarelecer em prol de labaredas rançosas, políticas;

Somos nematóides terrestres, com fome abstrata e induzida

Pelos outros vértices desta pirâmide inchada, maquiavélica;

Somos tenentes dum quartel de artérias, completas teias

A nos emaranhar, a nos filtrar, a nos abduzir.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 25/07/2006
Código do texto: T201379
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