[Sofrer Diante de Ti]
De alma leve, na soltura,
saio pelas ruas vazias
carreando as minhas penas
entre as muitas penas da cidade.
[Até os papéis velhos parecem
coisas interessantes à vista,
restos de construções também,
foram objetos de anseios,
custaram esforços, dinheiro!]
O que fazer num dia assim,
corpo estafado,
olhos soltos,
sem rumo,
mente vazia?
Vazia... será?
O que tanto me dói,
senão o mero escoar da vida,
senão as visões intercambiadas
com as coisas nesses arredores,
senão o regurgitar atroz, incessante,
da clara noção do que mata,
— o Tempo?
Tempo e ser; ser e sofrer... então,
de que adianta sofrer diante ti,
se não tens olhos para mim,
se não fiscalizas a minha pena,
se não te vanglorias da minha dor,
se nem mesmo sorris de mim?!
Eu não disse que estava assim,
de alma leve, na soltura?!
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[Penas do Desterro, 05 de dezembro de 2010]
[Excertos do meu Caderno 4, reflexões dos dias 23 e 31 de dezembro 2009]