Espera!

Bastou acontecer aquele olhar.

Em menos de cinco minutos tudo se desfez.

E eu já esperava esse momento.

O sol lá fora brilhava eufórico.

Não tardou, em instantes, esmoreceu em gotas de chuva.

E eu já sabia desse momento.

Por um breve segundo, talvez insignificante para os outros,

Tudo parou. Os eixos deixaram de ser ordenados.

O som que se fazia em meus ouvidos emudeceu.

E eu já sem sentidos, deixava de entender o que se fez desentendido.

Como? Diga olhando nos meus olhos; ainda consegui murmurar.

E o que eu ouvi, foi um grande grito, vindo do vazio que se fez em nós.

Como? Ainda não entendi; como se eu quisesse entender.

E, novamente, como eco vindo de um grande abismo,

O interior de você que eu acabara de conhecer, o grito se fez...

Um som irrompe do vácuo daquele silêncio.

Mãos se desdobram, enrolam, se empurram.

A queda do décimo primeiro andar, o afogamento no próprio ar

Quem ainda está em queda livre pela garganta daquele abismo?

Quem ainda está vitimado com o vôo livre daqueles andares?

Quem ainda está com água na pleura por causa do próprio ar?

Diga olhando em meus olhos!

Não consigo escutar!

Seus lábios murmuram o que os olhos não dizem...

Seus olhos sugerem o caminho oposto ao que seus lábios indicam...

Espera!

Estamos falando em signos, símbolos que não reconhecemos mais...

Vou acender um cigarro, enquanto você rói a unha...

Sua unha é minha vida, sua vida é meu cigarro.

Enquanto você arranca fora, eu destruo por dentro.

Enquanto eu sugo a fumaça, você destrói fora...