[Uma Só Candeia para os Olhos]

Eu vi:

quando o escuro, na tocaia

do fim do dia, extinguiu a luz,

a simplicidade absurda

de uma candeia acesa,

suspensa de uma trave

do telhado da cozinha,

brilhou nos olhos de todos.

E então, aquela chama suave

orientou os corpos cansados,

dirigiu as duras mãos fatigadas

até as bocas famintas, sedentas...

Eu vi: a simplicidade absurda

de uma só candeia, uma só!

Era um tempo em que bastar

era um verbo satisfaciente,

e então, bastava uma, uma só

candeia para a vasta cozinha

da fazenda fundada no Oitocentos...

Ah! Nasci desconfiando até da lua,

e até hoje eu não me canso

de escarafunchar as coisas simples!

... e essa desconfiança tem me saído

tão cara, tão cara... tantas perdas!

Por que, por que aos meus olhos

não basta a excessiva simplicidade

de uma só candeia? Por quê?!

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[Penas do Desterro, 03 de janeiro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 03/01/2010
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T2009037
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