[Uma Só Candeia para os Olhos]
Eu vi:
quando o escuro, na tocaia
do fim do dia, extinguiu a luz,
a simplicidade absurda
de uma candeia acesa,
suspensa de uma trave
do telhado da cozinha,
brilhou nos olhos de todos.
E então, aquela chama suave
orientou os corpos cansados,
dirigiu as duras mãos fatigadas
até as bocas famintas, sedentas...
Eu vi: a simplicidade absurda
de uma só candeia, uma só!
Era um tempo em que bastar
era um verbo satisfaciente,
e então, bastava uma, uma só
candeia para a vasta cozinha
da fazenda fundada no Oitocentos...
Ah! Nasci desconfiando até da lua,
e até hoje eu não me canso
de escarafunchar as coisas simples!
... e essa desconfiança tem me saído
tão cara, tão cara... tantas perdas!
Por que, por que aos meus olhos
não basta a excessiva simplicidade
de uma só candeia? Por quê?!
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[Penas do Desterro, 03 de janeiro de 2010]