Santo Sono
Acordo por dentro de mim
No interior duma mata lisa
Rezando às paredes a me remedar
Passam horas, não se altera o quadro.
Abraço o travesseiro mudo
Desnudo seus pensamentos
E as plumas a se esconder, a declinar
Passam dias, nada muda o quarto.
Repuxo labaredas tônicas
Vãs, enclausuradas numa sonsa brita
Não há melaço, nem mistério
Passam meses, o quadro se torna pardo.
Lambuzo resquícios fotogênicos
De tantos acalantos ternos, apaziguo
Parecendo a foz à espreita da água
Vão-se anos, o quarto derruba o quadro.
Meto no porta-retrato o sono
Leio meus pensamentos, ofuscados estão
O abajur de lâmpada queimada me traiu
Vão-se os resmungos, o sono se torna pardo.