Santo Sono

Acordo por dentro de mim

No interior duma mata lisa

Rezando às paredes a me remedar

Passam horas, não se altera o quadro.

Abraço o travesseiro mudo

Desnudo seus pensamentos

E as plumas a se esconder, a declinar

Passam dias, nada muda o quarto.

Repuxo labaredas tônicas

Vãs, enclausuradas numa sonsa brita

Não há melaço, nem mistério

Passam meses, o quadro se torna pardo.

Lambuzo resquícios fotogênicos

De tantos acalantos ternos, apaziguo

Parecendo a foz à espreita da água

Vão-se anos, o quarto derruba o quadro.

Meto no porta-retrato o sono

Leio meus pensamentos, ofuscados estão

O abajur de lâmpada queimada me traiu

Vão-se os resmungos, o sono se torna pardo.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 24/07/2006
Código do texto: T200852
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