Que Pena!

Pesado o fardo a meter nas costas,

Amarelento gerânio.

Quão mal te toma esta estrada escura?

(perguntei-lhe quando cego me achava)

Das questões fininhas, anzóis em alto mar,

Foi sapiente à todas elas.

Verde é o musgo a cobrir tua pele,

Amarelento gerânio.

O mar trama teu rumo e você nem se despede?

Qual o quê, gerânio esfacelado

Não tenha medo de mim

Estou aqui a te ouvir

Da alva neve a derramar reflexos no sertão

Sei de todos os companheiros a lhe implicar com detalhes.

Passou lá em cima, há umas três horas atrás,

Um jegue puxando uma caleche.

Você nem se moveu, manteve a flor em canivete cerrado

Não desmereça as areias, por finas que sejam

Elas constroem formosos castelos, assaz belos

É fato, as ondas a marulhar teus desejos, não nego!

Mas, firme esteja quando o jegue e a caleche voltarem do nada.

Amarelo o fardo a te conter as costas,

Verdejante gerânio.

Você almoça o vento em concomitância com o pleno

Não tapa, nem aparta.

Vive tudo, vê o mundo bem colarinho, num pio baixinho.

Teu musgo esconde teu poder de esganar o arco-íris

Não deixe!

Trazemos o leite da mamadeira quente

A misturar com a essência casta (fermenta um mosto).

Vem lá de longe a caleche puxando o jegue,

Amarelento gerânio.

A areia a cobrir tuas retinas, torna-no estrábico...

Permita!

O que se vê é só um pedacinho de mundo,

Uma réstia de alho (sabe o que eu digo)

Não vim aqui para dizer, mas para ouvi-lo,

Enternecido gerânio.

Tuas raízes a percorrer por tuas veias lânguidas

E teu amarelento colarinho, impediram-no de ver, mais uma vez,

O jegue e a caleche passar.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 24/07/2006
Reeditado em 14/12/2007
Código do texto: T200762
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