[O Bolero que Perdi]

Noite ruim, perdi.

Perdi tudo, tudo;

saio como tenho de sair;

ajeito o colarinho,

cuspo de lado,

seguro o paletó

no gancho do dedo

e vou pela rua afora.

Luzes ficam atrás de mim,

a música também fica,

e sigo... sigo mas,

saiba que não te perdoo

por não teres sido minha

naqueles tempos

em que um bolero

faria a diferença!

Morto de ciúmes,

eu teria aprendido

a dançar contigo.

Mas duvidaria de tudo:

...onde aprendeste,

quando, quem era ele...

Agora é tarde,

cheguei tarde

para a festa

de tuas carnes.

Um bolero,

um bolero só,

à meia-luz,

na sala silenciosa,

e tu me dirias

mentiras piedosas,

dessas que se contam

a moribundos, a mendicantes,

ou a amantes ingênuos...

Ah, boca amarga,

o champagne de primeira

virou de quinta,

a sarjeta é comprida...

Na sala vazia,

ecoam ainda os versos

do bolero que eu perdi.

O par dançante errou o passo,

desacontecemos, jogamos torto,

e agora, eu danço apenas

os compassos da solidão,

[Noite ruim — Fim].

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[excerto do meu diretório Agora - 2010 - texto de abertura do ano.

[Penas do Desterro, 01 de janeiro de 2010 - 02hs da madrugada]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 01/01/2010
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T2005496
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