A Palmeira Tombou
Quantos anos são precisos para uma palmeira imperial quase alcançar o céu? Era essa a impressão que tinha cada vez que contemplava a esplêndida beleza da palmeira que avistava da janela do quarto.
Ao amanhecer quando abria a janela do quarto era acolhida com a suave dança das folhas douradas pelo Sol ou, maravilhosamente verde nos dias de chuva. O movimento harmônico dava testemunho de total entrega às carícias do vento, sem a perda de sua majestosa beleza que atraia meu olhar.
Ao entardecer voltava a dourar as folhas pela luz do Sol ao se pôr, com a sutileza de quem o céu também pudesse tocar e, junto ao Sol, se despedia do dia preparando-se para receber a Lua, que aparecia por trás de sua folhagem, como se nela tivesse escondida ou à descansar, enquanto o Sol fazia o dia acontecer.
Ao chegar a noite sua folhagem era contornada pela luz da Lua, que em noite de luar, não nos restava opção, apenas contemplar a beleza esplêndida, que em noites de verão nos fazia esquecer o tempo e, pelo movimento das folhas, também nos seduzia às carícias do vento, que nos balança, acalanta e nos faz dormir.
Era final de tarde, o Sol começava a se despedir do dia dourando, como de costume, as belas folhas da palmeira imperial que encantava mais uma vez meu olhar. Não sabíamos, nem eu nem o sol, que a esplêndida palmeira sentia dor e sangrava, pois até o ultimo momento se manteve majestosa.
Desconfiei que algo diferente acontecia. Ouvi alguns gemidos que se confundiam com o som da moto-serra, não quis acreditar. O Sol se pôs e junto a Ele a palmeira tombou.
Amanhã o Sol nascerá e será surpreendido com a ausência da palmeira que não mais sua luz desejará. E a Lua o que dirá quando perceber que a folhagem que a acolhia não mais a acolherá? Quanto a mim, guardarei na lembrança a beleza esplêndida da palmeira imperial que nunca mais poderei contemplar.
As imobiliárias inculpáveis destroem mangues, reservas florestais e árvores centenárias diariamente. A palmeira imperial que me inspirou a escrever esse texto, tombou no dia 28/12/2009 às 17:20, no Bairro Brasiliana, Arapiraca/AL. Foi apenas mais uma vítima da ação “humana”. Será que ainda haverá, em futuro próximo, sobrevivente para ocupar as construções erguidas nos espaços da natureza destruída?
Arapiraca, 28 de dezembro de 2009