Felicidade ambígua
E lá estava a minha pessoa, a caricatura do aperreado homem, a balouçar-se na rede, a verificar os astros mais cuidadosamente. Sempre que posso tomo meu cafezinho às 18:00, ao pé dum radinho, contemplando a selva bonita daqui. E lá estava minha moça, tão bonita e pura... Quantas louças reluzindo, quanta comida posta à mesa, esperando pra ser comida e agradecida. E eu estava aperreado. E eu estava assim, vexado...
Havia filho, um lindo filho, uma bela moça companheira de minha vida, o radinho, a rede, a selva, a chuva torrencial nas madrugadas, a madrugada nas madrugadas, tudo o que eu procurara no início. E por que o aperreio? E por que estar vexado assim? Era dor, dinheiro, amor, recessão espiritual (há muito que não uso este termo)?
E lá estava minha pessoa a escrever as canções mais tristes, os poemas mais cruentos, a vida mais viva nas linhas mortas do caderno velho. Estava lá a causa do aperreio: a minha eterna insatisfação com o meio, com as bases que eu mesmo construo, com a vida que em mim vive desde o início.
Que pôr-do-sol mais triste o daqui !
Que felicidade mais ambígua a minha !