[Escrito no Vento]
Na madrugada, o vento frio -- bêbado ele, bêbado eu? -- sopra sem rumo por meandros antigos, e sopra a toa... ou não? Não sei! Na atoice do vento, lembranças de fatos sem nexo sobem à tona do lago escuro da memória - como esse do Aristeu.
Dia ensolarado, nada a fazer, eu ia para piscina do colégio. Era chegar ao portão e o Aristeu: "Carlinho, direto pro chuveiro, e banho frio, viu?" Pra quê, Aristeu? "Ara... o banho frio faz cê mijar logo, mas no banheiro, não na piscina!" E era verdade. Era e até hoje continua sendo — esfriou o corpo, a “água” verte...
Quem teria ensinado isso ao Aristeu, quem? A vida? O próprio corpo dele? O que mais fica, o aprendido com a mente, ou o aprendido com o corpo? O corpo aprende?! Têm sentido essas perguntas, valem alguma coisa? Pensamento não tem freio.
Também, que desgraça de memória é esta minha, e que estranho mecanismo é esse que, numa lufada de vento frio, me traz esta lembrança [inútil] tantos anos depois, e a centenas de quilômetros daquela piscina, daquele colégio? E que arrogância é esta de dizer que uma lembrança é inútil? Quem sou eu, para julgar minhas lembranças? Memórias escritas no vento da madrugada. de que valem, se a vida, vida maldita, vale nada, nada mesmo?
____________
[Penas do Desterro, 29 de dezembro de 2009]