Querido amigo imaginário

Borboletas de todos os tamanhos, colorações e aspectos. Batiam intensamente as suas asas encantadoras no meu abdômen. Não possuía de fato pequenas borboletas no estômago, mas era como se possuísse. Os mais velhos denominam-lhe "nervos". Mas eu dou primazia às borboletas, o nome até é mais belo! E para quê invocar as coisas pelos nomes a toda a hora, se temos uma imaginação em completa vigia, para um novo desafio à derradeira do minuto? Eu creio verdadeiramente nisto. Foi o meu amigo imaginário que me ensinou isto hoje perto da noite, quando retornei do colégio. Ele tem umas ótimas opiniões, ou ao menos, são espirituosas e fazem sempre sentido! Não são como as coisas que os senhores da tv exprimem. Difíceis e trabalhosas. Não creio que criança alguma as entenda. Os pais falam bastante acerca desses assuntos, e se lhes pergunto do que falam enunciam que é «interesse de gente adulta» e exigem-me que vá para o meu quarto. Ou simplesmente ordenam-me que me silencie. O amigo imaginário fica muito aborrecido com eles quando o fazem, eu não, não faz mal... não é?

Não tenho por costume ir mesmo para o quarto, e como tal fui para o jardim com o amigo imaginário e ele como sempre mal se estendeu na relva, pegou no sono sem tardança. Estava com aquela veste afogueada xadrez que eu tanto adorava, e se me deitasse no solo iria torná-la suja... Portanto deitei-me na grama com a minha indústria de borboletas para cima, para ter possibilidade de contemplar as nuvens. Nos filmes estas têm formas de bichos, mas as nuvens de minha residência, não! São demasiado volumosas para existir coelhinhos ou outros animaizinhos no firmamento. E foi por isso que determinei-me a amanhã ir ao parque, para ver se as nuvens que contemplo da janela da sala têm formatos bonitos para eu poder divertir-me. Por isso, por agora prefiro encostar-me ao amigo imaginário e aguardar que ele acorde, para irmos assistir a um filme.