Vento*

Sei-me pouco menos que um sopro.
O desassossego tênue de um imenso azul
no prateado da lua que me visita, permeado de abismos do sonho
até o pulsar que sinto aqui na veia que delata em mim, a vida.
Sei-me nada, contudo sinto-me no epicentro
da feitura das paixões que movem o mundo.
Divago pensamentos em claustros, trago nos lábios anseios puros.
Sei-me na tonalidade do sol,
pois o amor celeste me toca numa carícia.
Subo todas as vertentes da partilha no afã de crescer,
alcançar corações e a matéria transcender.
Habito-me por vezes em ruínas e trôpega ausculto
rosas deixadas nas passadeiras dos caminhos,
esquecidas e esmaecidas.
Entre camadas sucessivas de pó e de tormentos,
vislumbro ainda
o viço das verdes planícies
e a bandeira que tremula ainda no cume do contentamento.
Guardiã de um próprio tempo, ainda guardo segredos juvenis
vigorosos, frescos e perfumados de céu claro, num denso arvoredo.
É vida e me toma.
Eu tomo-a e prossigo guardando-a num sudário no peito.
Continuo tecendo sonhos no meu silêncio íntimo.
Nas mãos ainda sinto, de Deus misericordioso, o vento.

Karinna*

Karinna
Enviado por Karinna em 25/12/2009
Código do texto: T1995411