Olhei... Olhei a lua minguante até que ela minguou, minguou...
Minguou dentro dos meus olhos cansados de olhar para ela...
Para aquele olhar aguado de lua que mais parecia um olho
Semicerrado, quase fechado, a me olhar desconfiado, parecendo
Até que sabia que eu havia descoberto o seu segredo de cúmplice!
De medo se escondeu por entre uma nuvenzinha anã cinza escuro
E só apareceu depois que eu havia me retirado e deitado, desolado...!
Dormi... Dormi a sono solto; solto das amarras e desamarras do cego nó
Que me prenderam e tolheram... Então, entendi que as minhas feridas
Em carne viva haviam cicatrizado ou então não doíam mais como antes...
Antes de te conhecer e ser enfeitiçado pelo teu olhar de fada do céu...!
Bailando nas noites insanas do meu encanto ou a vagar pelo recanto...!
Recanto de sonhos e fantasias que nortearam os meus dias de amor
E também as minhas noites de dor...
De insônia e inocência pueril...! Sonhei...
Sonhei que voava junto ao vento norte, vindo do norte Solidão
Levando-me no ar em fluídos etéreos, mas corpóreos, à casa da rocha
Passando pelo alto da pedra do dinossauro e da barragem do vau divino
Entrando pelo vale agreste e pela depressão sertaneja, até que eu veja
Aquele giz de inscrições rupestres da agreste aquarela do sítio Leitão...!
Vi a cachoeira pingando, pingando pinga e vesti-me da carapuça do Totonho
O vento batendo forte, mais forte, levou-me mais para o norte, em sonho...! Voei...
Voei depressa e então vi os formandos de uma escola (normal...!) e...
Foram aparecendo entes imaginários (sei que era sonho, mas tão real!):
“Zé da Luz” chamou “Seu Vidinho” para ouvir sua confissão de caboclo
E Chico Pedrosa entrou num jardim para conversar com a orquídea
Que chorosa e perfumosa contou-lhe sobre o seu romance com o cravo...!
E lá vinha todo pimpão o “Edson Bigodão” com música popular brasileira
Para enfeitar mais a festa depois da missa dos poetas e para afogar... Eta!
Ouvi... Ouvi claramente a estória de Adolfo, à meia noite, todo romântico
Apaixonado pela prima pôs-se a sonhar (como eu?), mas coitadinho dele...!
O pai da menina, fazendeiro poderoso, nervoso da canela, deu a ordem:
_ "Encontrem o negro, amarrem no moirão e surrem-no! Não merece a donzela."
Adolfo por imposição virou cangaceiro, matou o tio e enfurnou-se no sertão...!
Sangue de linhagem inglesa, sua coragem e afoiteza não o livraram da sina
Foragido da justiça por desgraça, no sertão andou e morreu lutando com praças...! Por fim...
Por fim em sonho retorno e então a vejo faceira, brejeira, feiticeira
Passeando pelo pomar rabiscando seus rabiscos até em árvores, para lembrar...
Lembrar de que? Da vida que é vivida por ser vida e que não se pode tornar Morte com vida...!
E em sonho penso que ela está a esperar a sua cúmplice
Para que venha lhe contar meus segredos...
E então o meu sonho termina...!

... afinal, não sei se tudo isso foi um sonho!i!



(
Dedicado à minha segunda musa e mestra, que me inspira com todo respeito, amor e carinho que merece)




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