[Adormecer o Desejo]
Tarde da noite, a casa silente...
Do meu quarto até a copa,
a experiência de caminhar.
O velho assoalho da sala
oscila, faz tremer os vidros
na antiga cristaleira,
um retinido que perdura,
e vai a todos os pontos da casa.
A Insônia e a Angústia,
mãos dadas com o Tédio,
caminham pela casa.
Lá fora, a rua não tem saídas;
e a esta hora, não leva
a nenhum lugar - sem salvação!
[Um copo d'água na talha
da copa, agora, o único remédio
para aplacar esta sede noturna...]
A memória daquela voz rouca,
o sorriso ponteando a fala suave,
o carinho varando impossibilidades,
passando pelas brechas do tempo -,
o corpo que reclama, e quer, quer...
Adormecer este desejo - como?!
[Penas do Desterro, 20 de dezembro de 2009]