Pé na tábua. Fé em Deus. Olha o poste !

O rapaz apressado diz: tchau mãe, vou curtir com minha namorada (não MINA, como dizem alguns amigos ¨estranhos¨ meus). Não vá, meu filho, diz a mãe impaciente- não vá, pois o tempo está fechado e além do mais, já se faz tarde, muito tarde para sair. Hoje é dia de ¨carga¨, velha. Não se preocupe, vou e volto, diz o rapaz já ¨cheio do Barhdall¨, como diria o Julião. Mas que noite aquela: trânsito fechado, acidentes aos montes, muita chuva e uma penumbra mais sombria que se acoplava aos automóveis daquela hora, daquele momento... Foi-se o rapaz. Foram o rapaz e a namorada. E havia muito motor naquela moto: 500 cc, um design robusto e moderno, além do KÉKÉU no bolso, digno de alguém ¨bombado¨. Foram-se os dois (sob total redundância- AMBOS). Ambos na pista. Ambos pista à fora. Ambos conhecedores dos pensamentos do Millôr, que diz que é preciso MUITA FÉ EM DEUS para se meter tanto o pé na tábua. E que pé na tábua. E que chuva. Fé em Deus, casal maroto, casal imaturo. Cuidado com as esquinas, com as curvas, com o bafômetro e com os RANGERS da rodovia. E que fé, e que fé. Aos modestos 150 km/h, noite a dentro, pista à fora, sem receios ou arrependimentos. E que noite... Que não se repita, dizia a mãe constrangida em casa. Não vai se repetir, mãe, digo eu nesta carta: a fé dos dois era tão grande que removeu, não montanhas, mas um poste que os encontrou e os acertou de cheio. Restaram as cilindradas da moto para serem reaproveitadas. Restou o resto da noite para se lamentar. Quer saber de uma coisa: EU TENHO MAIS O QUE FAZER. Pé na tábua, fé em Deus e olha o poste !

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 16/12/2009
Código do texto: T1981308