Aprendendo a ver
Eu pedi uma palavra que fosse. Mas as vozes de uma multidão ecoaram pelas paredes e confundiram meus ouvidos, e eu não me esforcei para entender o que elas diziam.
Pedi também um sinal. Mas o terremoto que veio em seguida não deixou nada em pé, e eu esperei que tudo se estabilizasse para que o sinal pudesse então se manifestar.
Por fim, pedi uma luz. Mas os holofotes me cegaram, e eu não pude tentar enxergar se alguma luz havia por trás deles...
Há aqueles que sempre encontram o que buscam: pelos em ovos, chifres em cabeças de cavalo, tempestades em copos d´água. Mas há também aqueles que são atropelados pelos avisos e solenemente os ignoram, buscando outros que satisfaçam seus desejos. A paixão, quando filtra o discernimento, é traiçoeira. Forja olhos que vêem demais, cria outros que nada enxergam.
Há, sim, os ganhos. Pois de engano em engano aprendemos a ver, a discernir, a escolher ou a acatar as escolhas. Nossa visão se apura com a idade, diferentemente dos olhos físicos: quanto menos enxergamos de perto, mais podemos ver. Desde que tiremos dos olhos as lentes deformadoras e viciadas da paixão.