A NOITE DOS CONDENADOS



O manto negro da noite se estendeu sobre a cidade
A lua medrosa e fugaz se escondeu em grossas nuvens
Acomodando-se e implorando que a noite logo passe...!
A névoa sombria e úmida cobre o silêncio dos mortos
Que porventura vagueiam em busca do gemido dos vivos
Cujas almas silenciam no entrelaço dos traçados destinos...!
Os sátiros da noite pulam e se eriçam nos palácios de prazer
Abocanhando a carne apodrecida das mariposas noturnas
Cortando sem dó nem piedade o elo de consciência do pecado...!
Os bafos fétidos de mal cheirosas latrinas se misturam a odores
Dos perfumes baratos dos corpos à venda, almas eivadas de vícios
No antro perdido de amores proibidos, no mais profundo abismo...!
A brisa recolheu as suas vestes transparentes e perfumadas
Para não perdê-las, arejadas por tantos e malignos estertores
Que consomem e condenam a vida daqueles que ali freqüentam...!
Uma réstia de luz de velas sobressai na soleira de tão parco abrigo
Como a gritar aos condenados em vã tentativa de salvá-los
Da escuridão da noite que os prende nos seus descarnados dedos...!
E dentro do casebre miserável, em prantos sentidos, dolorosos,
Resta a esperança de um pai abandonado vendo a criança adormecida
Que nos seus sonhos abraça a mãe, sem sabê-la tão perdida...!