A Escrita da Voz

Falamos sentados a uma mesa - no presente, o futuro é um verbo impronunciável, vago, breve, as suas sílabas - não no centro do percurso do mundo, mas a uma certa hora: numa clareira aberta pela luz - diz-me a luz real; afirmo, este lugar anónimo banhado entre a penumbra, a fenda do ar corroendo as arestas da sombra.

Não sei o tema que trouxe a minha voz aqui - ver a voz na orla contingente das palavras - ver as palavras num cenário de fim de tarde, enquanto passa o mundo pelas avenidas convictas do real. Apanho um táxi para me lembrar do movimento em que a cidade se dissolve pelos cristais enevoados da noite líquida.

Falamos sentados - no presente - a uma mesa de amanhã, quando o tema fluir sob a voz: a escrita vaga e breve de todas as sílabas.