Pés descalços
Elas nem sentem a quentura do chão em seus pés descalços.
Correm alegres disputando com o vento quem chega primeiro no pau.
Pique-esconde, pique-pega, cobra-cega, queimada...
A terra levanta a poeira vermelha e reveste os corpos suados. As cabeças com os cabelos desgrenhados movimentam-se sem parar.
No meio do aparente tumulto as vozes permanecem firmes e fortes. O arfar dos coraçõezinhos extasiados e os olhos atentos não se desgrudam das brincadeiras.
Ás vezes um empurrão ali, uma queda acolá ou um xingamento saído sem querer provoca uma momentânea e explosiva tempestade. Caem relâmpagos, trovões ensurdecem, o medo arrisca um provável choro. Por pouco tempo. Briga de criança não é como a briga de adulto. Crianças falam, gritam, expõem suas razões. Depois se olham, se calam, fazem as pazes para poderem brincar novamente.
O sol volta a iluminar os corpos suados e esquecidos da palavra cansaço.
A poeira vermelha se levanta para encobrir as gargalhadas infantis.
Voltam a se misturarem com o ar quente e com a poeira.
Nas brincadeiras, as crianças se misturam com a felicidade verdadeira.