Vontade

"Eu sou apaixonada por você [...]

Só não tive coragem pra dizer,

Que tô queimando, tô me roendo..."

(Accioly Netto)

Faz tempo. Já nem sei mais contar. Sei que era uma manhã linda. Sei que olhei pra você e pensei que teu sorriso seria a melhor cena existente no meu dia. Eu era insegurança e medo. Você veio me ensinar o be-a-bá de toda a rotina que teríamos pela frente, juntos. Eu juro que procurei algum anel ou qualquer sinal de fumaça que me dissesse algo sobre você. Juro que tentei de todo jeito terminar de analisar toda aquele planilha gigante que você me deu pra passar o tempo, mas tua voz e as palavras que você dizia e que eu ainda não compreendia eram muito mais atraentes que aquele excel sem sal. E eu ficava te olhando falar, chamar os outros, sorrir pra mim e tive a certeza que ali seria um bom lugar pra me aconchegar.

O tempo foi passando e eu fui te descobrindo. Amigo pra qualquer hora. Pra qualquer assunto. O melhor de mim foi se transformando em tudo que você me ensinava. Nas risadas nas horas mais tensas. No mau-humor compartilhado quando tudo dava errado. Na troca de olhares que diziam muito mais que um trilhão de palavras e me davam a certeza que tudo daria certo porque estávamos juntos. Foi fácil descobrir a pessoa maravilhosa que você é.

E eu me acostumei: Com seu sorriso ao me ver quando chegava do almoço. Com o cafuné que me dava todos os dias ao chegar. Com os abraços fora de hora que não poderiam ser em horas melhores. Com o hábito de pegar água pra você porque senão você não bebia nada o dia todo. Com teu sorriso toda vez que levava um pedaço de torta ou um bolo pra você. Acostumei a esperar os segundos pra você ir embora só pra me dar um beijo na testa de despedida. Com você me chamando pra te ajudar a escrever alguma coisa e sorrir lindo depois que estava tudo pronto. Com você querendo saber das minhas notas na faculdade, ou sobre o que eu estava lendo, ou sobre qual matéria eram aqueles livros que eu carregava. Com você "brigando" comigo quando eu pegava suas fichas na impressora sem querer. Com você me ensinando como conciliar as coisas e em como você afirmava que me levaria pra você. E levou mesmo. Acostumei com você me contando sobre suas coisas, mesmo quando contava pelas metades. Com você indo pra faculdade comigo. Com você elogiando meu corte de cabelo novo e sentando do meu lado só pra falar sobre nada. Acostumei a dizer que te amo, porque amo mesmo. Acostumei com o som da sua voz que respondia que também me amava. Acostumei a dançar a noite inteira querendo que todos os meus pares fossem você. Acostumei ao fato de que teria que viver querendo.

Você me assustou de um tamanho que eu não sei medir com aquela cirurgia complicada que te deixou meses longe de mim. E como era difícil não poder ir todos os dias te ver no hospital e na sua casa. E como eu queria ter o poder pra não deixar você passar por tudo aquilo. E provavelmente você não saiba do quanto sofri nesses meses sem você. Foram pesadelos sem fim. E eu sonhei muito com o dia da sua volta.

E você voltou. Lindo. Com aquele mesmo sorriso do primeiro dia. E eu fui te ensinar o que de novo tinha pra fazer. E eu fui matar toda a saudade que eu tinha guardada no peito. E fui exigir, em silêncio, que você me desse todos os beijos na testa e cafunés atrasados que eu tinha direito. E quis colocar você no colo e não soltar mais. Não fiz. Não falei. Mas tive todos os beijos e carinhos que você podia me dar de volta. Eu tinha você de volta.

E eu tive a certeza que amor aqui de dentro não se solidifica em amizade, apenas. Você é mais, muito mais do que meu melhor amigo. Você é a pessoa que em muitos momentos inconscientemente, eu desejei ter do meu lado. Pra vida inteira. Sem nunca ter o direito de desejar, mas eu desejei. Muito. E continuo desejando mais a cada segundo.

E está cada vez mais difícil esconder de você esse amor inteiro que sái de dentro de mim. Tento guardar essa coisa que eu sinto comigo, mas a cada dia que fico ao teu lado, sinto você respirando esse meu sentir. Como se pudesse ler nos meus olhos que eu não ligo pra nada, desde que você fique aqui. Como se você traduzisse nossos carinhos e através deles enxergasse o que parece estar escrito na minha testa: Que eu amo você, Nego.

Glau Ribeiro
Enviado por Glau Ribeiro em 08/12/2009
Código do texto: T1966622
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